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Cartografia de Artes e Ofícios

Barbeiro

O ofício de barbeiro tem sua origem no Egito, muito antes de Cristo, onde membros das classes religiosas e realeza costumavam raspar os cabelos e a barba. No século II antes de Cristo, em Atenas, surgem os primeiros espaços destinados aos barbeiros e se constituam em pontos de encontro entre poetas, filósofos, políticos.


No período da idade média tem-se a notícia da fundação da primeira organização de barbeiros, surgida em 1096, na França, quando o então arcebispo da época proibiu o uso da barba, já como prática da necessidade de higienização do corpo. Foi neste período que surgiu o Barbeiro-Cirurgião e o Barbeiro-Dentista, que se espalharam por toda Europa. O Barbeiro-cirurgião era uma das profissões mais comuns na área médica durante a Idade Média, que eram geralmente incumbidos do tratamento de soldados durante ou após batalhas. Nesta época, cirurgias em geral não eram realizadas por médicos, mas por barbeiros, que também faziam pequenas cirurgias nos ferimentos dos camponeses e sangrias. De acordo com Debret (1965), os indícios acerca dos barbeiros no Brasil remontam ao início do período colonial quando o ofício aqui chegou com os padres jesuítas.


Em 1549, os barbeiros, como os cabeleireiros, eram inseridos nas classificações de artes e ofícios no Brasil como artes distintas, diferença que permanece até os dias de hoje. Porém, a atuação e modo de trabalho dos barbeiros não são registrados. O ofício de barbeiro - como todos os demais ofícios trazidos pelos jesuítas- eram ensinados aos povos tradicionais brasileiros com o objetivo de instaurar a noção de civilização imposta pelo colonizador. Foram os “cirurgiões-barbeiros”, portugueses e castelhanos, cristãos-novos ou meio-cristãos-novos dos séculos XVI e XVII que podem ser considerados os primeiros barbeiros do Brasil. 


Ainda segundo Debret (1965), do século XVII até fins do século XIX, a profissão de barbeiro vai ser relegada aos negros escravizados, que se destacavam como barbeiros ambulantes. Esses negros escravizados, mulatos e até homens livres pobres, que atuavam como barbeiros, possuíam um instrumental que incluía navalhas, pentes, tesouras, lancetas, ventosas, sabão, pedras de amolar, bacia de cobre, escalpelos, boticões, escarificadores, alçapremas, torqueses e sanguessugas. Na Amazônia, o oficio de barbeiro atravessa o século XX e chega ao XXI praticado por pessoas oriundas de classes populares e subalternizadas, marcados, em sua maioria, pelas ancestralidades indígenas e africanas. 


Em Belém, no bairro da Campina foi localizado o senhor Henrique Fonseca de Almeida, de 74 anos, conhecido como Quiba, exercendo há mais de 50 anos o ofício de Barbeiro. Em entrevista seu Henrique disse que: “Nasci no município de Maracanã e fiquei por lá até meus 17 anos. Vim pra Belém para me alistar na Aeronáutica. Morei na casa de um tio na Pedreira por uns 6 ou 8 anos. Um amigo chamado Ademir que me indicou para trabalhar como barbeiro no Salão Oliveira, de propriedade do seu Orlando. Eu já estava com 22 anos e trabalhei com seu Orlando durante 08 anos. Aí, ele foi embora para Manaus e eu tive que procurar fazer meu sustento como barbeiro né, foi quando uma amiga que trabalhava no Hotel Baré me deu um espaço lá por 02 anos. Como eu cortava o cabelo dos fazendeiros, daí eles me cederam um espaço na cooperativa dos fazendeiros que existia aqui em frente. Fiquei lá por uns 04 anos ou mais. Depois fiquei sozinho no prédio, mas não deu pra continuar ali, ambiente degradado, perdi muitos clientes. Meu apelido é por causa de um antigo jogador do Remo, chamado Quiba, me comparavam a ele. Seu Henrique, embora pai de 3 filhos, não conseguiu repassar seu ofício a nenhum deles, o que lhe ressente muito. Sua rede de clientes é bem vasta; “Tenho muitos clientes aposentados que quando veem a Belém cortam aqui comigo. São pessoas de Santa Izabel, Curuçá, Santo Antônio do Tauá”. Fazendo uma comparação do hoje com períodos passados, seu Henrique é enfático em dizer que antigamente a profissão de barbeiro era mais procurada e mais valorizada também “[...] muita gente vinha cortar cabelo aqui. Às vezes eu não conseguia nem almoçar”. Hoje, o que ele ganha no ofício de barbeiro dá para garantir o sustento, mas em épocas passadas o ganho já foi bem melhor. (Entrevista concedida em 28/05/2023)

© 2023 Cartografia de Artes e Ofícios. Produzido por: Arte Net

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